Semana passada fui ao Campo de São Bento e numa rua próxima,
mais uma vez, vários ninhos de sabiás foram destruídos por
micos. Na Região Oceânica, um amigo conta que um casal de
sabiás que três vezes fez ninho e teve filhotes num canto
perto da garagem de sua casa, foram comidos pelos micos.
A praga dos micos se espalha por Icaraí, São Francisco e
Ingá, bairros de Niterói. No Rio, dizem que estão castrando
esses símios, mas a população não para de crescer, em
especial no entorno do Jardim Botânico.
Tempos atrás escrevi aqui que a imbecilidade humana não tem
limites. Nos anos 1980, espíritos de porco trouxeram da
Bahia duas espécies de micos que são carnívoros, entre elas
o mico-leão-da-cara dourada, ou leontopithecus chrysomelas
que come filhotes de passarinhos e ovos, ameaçando de
extinção sabiás, sanhaços, bentevis.
Pior: alguns asnos dão comida para esses micos, cuja
população em Niterói (me informam veterinários) já passou
das duas mil espécies. No Rio, mais de 15 mil. Tentando a
salvação, os passarinhos pedem socorro ao mesmo ser humano
que teve a boçal ideia de, mais uma vez, detonar o
equilíbrio ambiental. Estão fazendo ninhos dentro de
apartamentos, garagens, varandas, de preferência em áreas
densamente urbanas.
Por isso, ouço sabiás cantando perto de minha janela e, em
determinado momento, comemorei. Erro! O canto é de
desespero. Sabiás vem para a cidade fugindo dos algozes
símios da Bahia que alguns bípedes ditos inteligentes
trouxeram de lá.
As perguntas que me rondam: 1) Como vão resolver o problema?
Li no jornal que começaram a castrar esses micos, mas já
informaram que é muito difícil capturá-los; 2 – Por que as
pessoas dão comida aos símios, interferindo diretamente no
ciclo ambiental?; 3 – Por que os imbecis trouxeram esses
micos da Bahia para cá?
A lua ainda é dos poetas, mas o mundo
não esquecerá de Neil Armstrong
A lua jamais deixará de ser a musa encantada dos poetas,
mesmo depois que Neil Armstrong desceu do módulo lunar da
missão Apolo 11 em 20 de julho de 1969 e marcou o solo lunar
com sua bota prateada. 1969 foi um ano de muitas mudanças,
entre elas o maior protesto contra a guerra do Vietnã
reunindo meio milhão de pessoas (90% jovens) em Woodstock,
no mês seguinte. Esse ano foi tão significativo que,
inspirado nele, Paul Auster escreveu o magistral “Palácio da
Lua”, livro que devorei em dias noites.
Sempre fui um apaixonado pelo céu e os astrólogos dizem ser
uma característica de meu signo. Lembro bem do dia em que o
homem pisou na lua. Tinha 14 anos e morava na rua Alvares de
Azevedo em Icaraí, onde o nosso bando tinha o hábito de
jogar taco (uma espécie de baseball tupiniquim) no meio da
rua. Atento a propaganda sobre a hora em que Armstrong
pisaria na lua, fui cedo para casa para assistir pela TV.
Acho que não foi uma transmissão ao vivo, mas sei que a
narração era de Hilton Gomes, um célebre locutor. A imagem
em preto e branco cheia de imperfeições me hipnotizou e
quase não ouvi o pipocar dos fogos que algumas pessoas
soltaram celebrando aquele momento. Um momento crucial na
história de todos nós que algumas pessoas insistem em
afirmar que foi uma fraude, que o homem pisando na lua teria
sido uma gravação simulada em estúdios. Que bobagem.
Algumas pessoas diziam o fato do homem pisar na lua anularia
seu poder poético. Não acho. A lua continua comovendo, mesmo
depois de Neil Armstrong e também da Apolo 13 que passou
perto mas não pode descer (o filme com Tom Hamks é
fabuloso). E se a humanidade evoluiu, pelo menos
cientificamente, devemos muito a desbravadores heroicos como
Armstrong.
Aliás, sugiro a todos que peguem nas locadoras o filme “Os
Eleitos”, de Philip Kaufman que conta a história da corrida
espacial de um jeito completamente diferente. O filme é
baseado no livro de Tom Wolfe.
Neil Armstrong morreu em agosto de 2012 triste com o corte
de verbas para o programa espacial e até se reuniu com
Barack Obama para tratar do assunto. Obama explicou que é
uma questão temporária mas, ainda assim, Armstrong não
engoliu. Discreto, nunca transformou a sua grande viagem
numa egotrip pessoal e, só eventualmente, dava uma ou outra
palestra. Admiro pessoas assim. Por tudo que representa e
simboliza, por tudo que fez, Neil Armstrong, um ícone dos
anos 60, deixa muita saudade.
E já que existe lua, vai-se para a rua. (Gilberto Gil).