Só as ratazanas gozam com o abandono do Canecão, célebre
ex-casa noturna carioca que depois de um longo processo
judicial, foi devolvida a sua dona a Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Ela mesma, que não consegue manter
dignamente sequer o Hospital do Fundão, onde profissionais
de saúde padecem para conseguir trabalhar.
Nenhum artista, das centenas (não é exagero) que passaram
pelo palco daquela meca do show brasileiro (e mundial),
inaugurada em 1967, teve a dignidade de protestar. Muitos
artistas consagrados pensam no próprio rabo, em saldos, em
turnês e deixam o resto (Canecão inclusive) no brejo, quase
sendo abocanhado pela especulação imobiliária. Que vergonha!
A UFRJ devia tirar a máscara, a cara de pau e devolver o
Canecão para quem sabe trabalhar com entretenimento.
Simples: é só fazer uma licitação honesta e escolher
empresas ou pessoas que saibam fazer e gestão de
entretenimento com competência, lisura, ética. Mais: a UFRJ
pode, ainda, garantir uma boa grana.
Tempos atrás O Globo publicou reportagem de Luiz Fernando
Vianna, intitulada “Fechado há 15 meses e nas trevas,
Canecão procura nova luz” que dizia: “Só há três focos de
luz no Canecão: dois sobre o palco e um à esquerda de quem
entra naquela que, até ser fechada, em outubro de 2010, era
a mais famosa casa de shows do país. O desligamento quase
completo da energia é necessário, pois as infiltrações
tornam o espaço vulnerável a curtos-circuitos — como já
aconteceu. Chuvas fortes provocaram a queda de telhas,
molharam o célebre salão e vêm derrubando o revestimento
acústico de polipropileno, origem do forte cheiro de mofo.”
(...)
“Proprietária do terreno, a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) conseguiu reavê-lo em 2010, após longa briga
judicial com o empresário Mario Priolli, que fundou o
Canecão em 1967 e era inquilino da instituição. Mas ainda
não superou dois empecilhos à reabertura: os problemas
judiciais de Priolli e as divergências internas quanto a
como geri-la.
Quando a Justiça determinou a reintegração de posse, o
empresário paulistano, neto de italianos, foi embora e
deixou para trás mesas, cadeiras, o sistema de
ar-condicionado e outros bens (depauperados, mas bens). Eles
foram penhorados como garantia, já que são muitas as dívidas
de Priolli. Enquanto as pendengas não forem resolvidas, a
UFRJ não pode usar os equipamentos nem se desfazer deles.”
“A Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), cuja diretoria
tem filiados a partidos como PCB, PSTU e PSOL, é contra a
parceria com setores privados e pede um “projeto cultural
para a cidade com cara própria, inovadora”, segundo seu
presidente, Mauro Iasi. Mas muitos professores, como
representantes de Letras, da Casa da Ciência e da Editora da
UFRJ, aprovam a entrada de recursos externos, embora a
gestão deva ser pública.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ — cujo
leque partidário inclui PT, PDT e PSB — está afinado com a
Adufrj e diz que basta “vontade política” para dinheiro
federal ser injetado no Canecão.
Dentre os alunos, o GLOBO ouviu representantes do Diretório
Central dos Estudantes e da Associação de Pós-Graduandos. Há
quem considere saudável a abertura nos fins de semana para
eventos comerciais, mas todos defendem controle público,
para que eventuais receitas externas fiquem na UFRJ.”
Papo aqui, papo ali, muita enrolação, e o Canecão jaz
apagado, largado, chutado para escanteiro. Até quando?