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Letras | Cristina Lebre | Edição 163
Partos e partos

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Absurdos acontecem todo dia. Alguns chegam às raias da loucura. Eu sempre digo aqui que as pessoas nunca estão satisfeitas com o que têm, ou mesmo com o que são: diariamente a gente tem provas cabais desta constatação.

O chamado “parto humanizado”, atualmente, é o objetivo de muitas mães, pais, obstetras e pediatras. E não é à toa: tem tudo para ser, sem sombra de dúvida, a melhor forma de dar à luz, algumas dentro d’água, sem anestesia, com acompanhante para ajudar, a chamada “doula”, a fim de garantir ao bebê a mais tranquila vinda a este louco mundo, e à mãe, um pós-parto sem as dores de um pós-operatório, no caso a cirurgia cesárea. Sou completamente a favor do parto humanizado.

É também fato inconteste que o Brasil é um dos campeões da cesariana no mundo, e isso tem que mudar. O próprio SUS é, por determinação do Ministério da Saúde, obrigado a oferecer o parto humanizado a quem assim o desejar, embora a realidade continue sendo cruel com as mães que não têm plano de saúde: na maioria das vezes não se encontra leitos obstétricos para o parto normal, tendo a parturiente que peregrinar por várias maternidades até encontrar uma vaga. O Brasil ainda caminha a passos lentos em direção ao direito da mulher de ter seu filho da forma mais natural possível.

O problema é quando as pessoas radicalizam. E, ainda que não reúnam as condições ideais para ter seus filhos através do parto humanizado, insistem em esperar por horas e horas, por vezes até colocando em risco a vida da criança.

Pois soube de um caso, outro dia, que me deixou de queixo caído: uma mãe e sua equipe, obstetra, pediatra e doula, todas mulheres, levou 20 horas para conseguir trazer ao mundo um menino!. A mulher queria ser uma índia, mas não conseguia fazer força para expulsar o bebê. Enquanto isso, quantas índias não gostariam de ter um hospital perto de suas tribos!

É ou não um exagero insistir quase um dia inteiro em um processo que não está conseguindo êxito? Sou leiga, mas sou mãe. Eu, pelo menos, jamais esperaria tanto tempo! Somente depois de 18 horas tentando expulsar o bebê, sem anestesia, é que a equipe decidiu levar a mãe para o centro cirúrgico e aplicar-lhe uma anestesia local. Depois deste procedimento a mãe ainda levou duas horas para parir a criança, parto normal, mas não completamente natural, como ela desejava. Não deu, não deu, gente, paciência! E sorte a dela que o menino não entrou em sofrimento, embora estivesse pronto para nascer havia quase 24 horas. Absurdo!

Enquanto isso um outro caso me deixou mais estupefata ainda: uma mãe conseguiu que seu médico fizesse uma cesárea aos sete meses de gravidez, interrompendo propositalmente a gestação, simplesmente porque ela queria que a criança fosse do signo de câncer!!!!!!!! Pasmem, é verdade, a fonte que me contou essa história é fidedigna. Mais do que absurdo, isso é um crime! A criança teve que ficar um mês e meio na UTI neonatal porque nasceu, ou melhor, foi retirada, antes do tempo.
O que podemos dizer a respeito das anomalias humanas? Onde a gente está falhando na formação de novas gerações? Educação e cultura servem para quê mesmo? Ou o problema é a falta dessas? Nem sempre. Muita gente super culta e instruída, cheia dos títulos, está cometendo barbaridades. Os exemplos de partos que mencionei aqui são apenas uma amostra.

Enquanto ainda há tantas mulheres por aí que não conseguem engravidar, outras “cospem” seus bebês até dentro de um táxi a caminho do hospital, outras tiram o bebê do útero, à revelia da natureza, apenas porque querem que ele seja de um determinado signo, e outras tantas insistem em parir dentro d’água uma criança que elas mesmas não conseguem expulsar de seus corpos. Não, não são somente as mulheres que estão malucas. Este foi apenas o tema que escolhi hoje, no intuito de ilustrar a loucura humana. Afinal, como muito sabiamente disse Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”. Grande parte da humanidade moderna, eu diria, de longe mesmo já expõe sua insanidade. E degrada aquilo que a gente gostaria de chamar de “civilização”.


 
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