Recentemente, eu recebi na rua uma publicação oficial de
Niterói, que indicava uma vontade política determinada em
promover o governo. Era distribuída na nossa cidade pela
prefeitura, a revista fartamente ilustrada “FEITA POR VOCÊ”.
A intenção é clara, a vontade do prefeito de me fazer
protagonista das realizações do atual governo, de incutir em
mim e na nossa sociedade, uma responsabilidade coletiva
pelos atos e decisões do seu governo.
Não era a primeira vez que eu havia sido atingido por essa
pobre linguagem publicitária, já havia recebido a mensagem
anterior no livro - também fartamente ilustrado - “NITERÓI
QUE QUEREMOS”. Toda a publicidade do Governo Rodrigo Neves
impõe a ideia de que a sua governabilidade é democrática e
participativa. De que suas realizações foram decididas em
comum acordo, com seu programa eleitoral, com seu
planejamento estratégico e, enfim, com a nossa participação.
Não duvido que o destino da cidade não pode ser traçado sem
vontade política, sem desenvolvimento econômico e sem
controle social. Eu acredito que uma cidade sustentável é
resultado da gestão democrática e da participação popular.
Afinal, a cidade, a economia e o governo, são todos
pertencentes à sociedade. Cidade é coletivo de cidadão,
portanto, a cidadania deve tomar conta e decidir o futuro da
própria cidade. Nós podemos!
Dívidas nos Trilhos
O Prefeito Rodrigo Neves anunciou que Niterói tomou mais
empréstimos - R$1,5 bilhões - ao final do seu mandato. Chega
da Europa sorridente, comunicando trazer recursos para
construir um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) entre Charitas
e Centro... Projeto de infraestrutura! Onde estava este
projeto até agora? Qual a sua finalidade? Interligar duas
estações hidroviárias?
A receita líquida de Niterói é de R$1,9 bilhões por ano. Se
ele conseguir se reeleger, governará o município com um
volume de dívidas equivalente a quase 100% da receita anual
da prefeitura. Sem espaço no orçamento para investimentos, o
atual governo de Niterói seguiu o modelo do colega carioca,
e fez a opção de endividamento para realizar várias obras
simultâneas pela cidade. Explodiu as montanhas para abrir um
túnel com duas pistas de rolamento, excluirá outras duas
pistas de rolamento da Estrade de Itaipu para implantar um
corredor exclusivo de ônibus e, agora, deseja cruzar São
Francisco e Icaraí com trilhos. Todos os seus projetos
“estrutrantes” levam às barcas. Aquelas, que estão com a CCR!
O prefeito, no entanto, quando questionado, diz ter “trocado
dívidas ruins por outras menos prejudiciais” (Fonte:
ANPTrilhos). Não duvido que Niterói precisa de investimentos
para sair da imobilidade que se encontra, porém, precisa
fazê-lo com planejamento. Todos estes projetos não reduzirão
o tráfego viário, não ampliam as vias, pelo contrário, as
reduzem. Melhor seria gastar estes bilhões assumindo a
construção do metrô interligando Niterói ao Rio de Janeiro,
orçado em R$1,5 bilhões em 1990, quando o dólar era muito,
mas muito mais caro.
A Deriva das Barcas
Não poderia ter outro fim a concessão do transporte
hidroviário, destino inevitável desde o modelo de
privatização que entregou a CONERJ às companhias de ônibus.
A sucessão de erros não se resumiu à transferência irregular
de direitos concessionários e de recursos públicos à
administradora da Ponte Rio/Niterói, mas, principalmente, à
omissão de Niterói em fazer valer seus direitos civis e
defender um modelo de gestão comprometida com a população de
passageiros residentes no município.
Durante toda a crise, diante de todos os protestos, nosso
alcaide nunca foi aos diários da cidade - que sempre lhe
foram extremamente gentis - para manifestar contrariedade
com a falta de respeito e de comprometimento da CCR (“R” de
Rodovias) com a cidadania niteroiense. Agora, a cidade
assiste incrédula, a concessionária anuncia a devolução das
barcas ao Estado e lhe cobra 500 milhões de reais em
indenizações.
O Centro Maravilha
A Praia Grande, núcleo original urbano de Niterói, fará
aniversário no próximo dia 22, serão 442 anos de idade.
Desde então, o seu crescimento foi vertiginoso, a comunidade
se tornou cosmopolita e próspera, a qualidade de vida na
cidade é invejável. A antiga capital fluminense foi
englobada na fusão com a Guanabara e se transformou em
região metropolitana leste, ao lado de São Gonçalo e Maricá,
tão distintos de nós. Niterói não tem vocação de periferia,
sua cidadania tem os maiores índices de qualificação,
escolaridade, rendimento e desenvolvimento. Fatos só
garantidos por não sermos uma metrópole de milhões de
habitantes.
Ter a nossa cidade, uma população média de 500 mil
habitantes, nos proporciona uma governabilidade admirável.
Somos o capital humano, o capital intelectual e o potencial
empreendedor do Rio de Janeiro. O Centro de Niterói é uma
reserva de recursos desperdiçada e mal administrada, precisa
de revitalização. No entanto, copiar modelos de outras
cidades e importar gestores “estrangeiros” não agrega nenhum
valor à política pública municipal, já que falta um desejo,
um sonho claro: Afinal, nós queremos ser Manhattan ou New
Jersey?