Homens e animais mortos! O rio, que era doce, agora é
amargo. A cidade-luz se transforma em trevas e banho de
sangue. Os peixes falecem em um mar de lama que continua
avançando, enquanto cidades somem do mapa ou estão em estado
de calamidade. Como disse um amigo meu, “é impossível não
comentar as duas tragédias”. Nenhuma intenção de comparar
qual delas é a mais importante. As duas revelam os mais
hediondos comportamentos humanos.
Onde há gente há problema. Não tem jeito. “Mariana” não é o
nome de mais um furacão norte-americano, mas de uma
catástrofe além-fronteiras. Desde o momento em que a
barragem da Samarco Fundão se rompeu, um oceano de podridão
vem se arrastando e comendo tudo o que há pela frente.
Povoações, rios, campos estão, literalmente, na lama.
Pessoas estão morrendo, animais não resistem, o meio
ambiente chora. Nós choramos, e tememos pelo que ainda pode
acontecer.
Em Paris o estrago é dramático. Não há palavras para
descrever o que é aquele atentado à vida. E o mundo agora
está em guerra declarada. Religiões e sistemas de governo se
digladiam. Eu me pergunto “o que é o homem se não um monturo
de inutilidade, de pura e inóspita vaidade?”.
“Misericórdia quero, e não holocaustos”, diz Jesus no
Evangelho de Mateus, capítulo 9, versículo 13. Só este
trecho me vem à mente, enquanto passo o fim de semana
inteiro em frente à TV, ao computador e ao celular, tentando
resgatar o máximo de informações possíveis a respeito dos
dois infortúnios. E me deparo com uma disputa ferrenha sobre
qual o acontecimento mais significativo. Ora, amigos, isso
não é uma luta de UFC! Não há estrelas neste universo de
trevas! O mundo escorre no limbo da soberba humana, e uma
massa de gente que não tem o que fazer ainda fica batendo
boca virtualmente acerca de quem mata mais, quem morre mais,
o que é mais cataclísmico!
Basta de abobrinhas! Vamos aos fatos. Estamos todos
ferrados, de uma ponta à outra do planeta, e ai das que
“estão grávidas ou amamentando” nestes dias! O que interessa
é divulgar, compartilhar, lutar, resistir, se aprofundar no
combate ao mal que se espalha feito o lodo incessantemente
escorrendo terras e rios abaixo em direção ao mar, ao mesmo
tempo em que engole aglomerados urbanos e a natureza, sem
escolher qual o primeiro, qual o último! Mister é usar todas
as armas (pacíficas) possíveis, entre elas as redes sociais,
para provar à morte que ainda estamos vivos, e que vamos
continuar vivos queira ela ou não porque, ainda que esta
víbora sorva uma geração, outra está chegando e a ela
tragará!
É bem verdade que alguns veículos de comunicação priorizam,
em seus tempos de notícias, uma desgraça, em detrimento da
outra. E isso não é correto. Mais, é antiético, antissocial,
anti - o direito da opinião pública à informação, ou seja,
anti - tudo! Mas bolas, não precisamos apenas dos canais de
TV, temos à nossa disposição uma gama infinita de fontes no
mundo virtual. São sites, blogs, páginas, papers, artigos,
pesquisas, o que a gente quiser! Onde clicarmos, ali haverá
a referência que estamos procurando. Se é assim, pra quê
discutir se Mariana é mais grave do que Paris, ou
vice-versa?
Paris sempre será Paris, a cidade mais charmosa do mundo!
Não há terrorismo que consiga apagar seu brilho. Em que pese
o profundo lamento pelas famílias enlutadas, os jovens
mortos são agora mártires dessa contenda insana deflagrada
entre radicais islâmicos e ocidentais arrogantes. Pois quem
sabe qual nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem atirou a
primeira pedra? Quem começou a matar inocentes? O que será
dos refugiados sírios tentando entrar em território europeu
agora? Quem tem mais direito à vida? Quem disseminou o
preconceito, senão o próprio ser humano, e desde que o mundo
é mundo?
A patética realidade que vivemos, neste século cheio de
tecnologia e nenhum respeito, nenhuma tolerância, é apenas,
e não mais do que, o fétido resultado da prepotência do
homem. E não vamos acabar aqui. Paris, Mariana, Chernobyl,
Hiroshima, Palestina ou o Complexo de Manguinhos nada mais
são do que cenários da barbárie humana. Porque tragédia não
tem ego, mas este, às pessoas, é o que não falta! E mais do
que super, padecemos do “over-ego” que assola as nações. Que
venham mais notícias: infelizmente, estamos preparados para
(quase) tudo!