A diferença é que
o Brasil foi descoberto e não conquistado. Há quem diga que
foi por acaso e que Cristóvão Colombo já havia avistado
nosso litoral antes, mas passou batido. Ninguém sabe porque.
Conquista é uma
coisa, descoberta é outra. Aí, em 1808, movida pelo cagaço
irrestrito, a Corte portuguesa fez as malas e, se borrando
toda, veio parar no Rio de Janeiro fugindo de Napoleão
Bonaparte. Dom João VI, imperador, preferiu o calor
inclemente do Rio e a fedentina da cidade onde cães, bosta e
gente degradada se misturavam em grotescos rituais, a ter
que enfrentar as tropas francesas.
A História conta
que um dos primeiros atos de D. João foi criar o Banco do
Brasil para seu uso pessoal, transformado em cofre
particular de onde arrancava milhões e milhões todos os
meses. A bordo das naus que partiram de Lisboa, escoltadas
por navios ingleses (ingleses que, como pagamento, levaram
toneladas - literalmente - de ouro das Minas Gerais), a fina
flor da escrotália da elite portuguesa que veio desaguar no
Brasil, criado como lupanar. Jamais como nação.
Um país
descoberto por acaso, um imperador encagaçado que veio parar
aqui nas coxas, uma rainha que se chamava de "Louca", enfim,
o Brasil deu no que deu, ou não deu no que deveria ter dado,
tem o DNA da lambança.
Em suma, em 2014,
514 anos após a chegada de Cabral e 206 após o desembarque
do cagão D. João VI e sua Corte larápia, o povo brasileiro
foi as urnas e reelegeu (re!) o governo que aí está. Só esse
governo quebrou o Brasil. Se alguém conseguir achar, por
exemplo, uma ambulância do Samu verá nela a cara da saúde
pública: faróis quebrados, sem sirene, maçanetas amarradas
com barbante. Vi uma assim e o funcionário no banco do
carona batia com a mão na porta para abrir caminho porque a
sirene estava pifada e a buzina também.
A educação, o
transporte, a segurança, o emprego, a esperança, o sonho,
foi tudo ralo abaixo. Absolutamente tudo. Só que eleição não
tem Procon. A maioria elegeu o que está aí e,
democraticamente, teremos que aturar até 2018 quando,
espero!!!, o país já tenha chegado ao fundo do poço. Por
que? Elementar. Até agora o Brasil continua em queda livre,
sem bater no fundo e, ensina a física, só poderá voltar à
tona o que já chegou ao fundo. Física, mecânica, a elementar
cinética.
Impeachment? Não
sei se vai rolar por várias razões. Várias. Não vou aqui
enumerar porque não tenho mais saco, mas não sei se vai
rolar. Como D. João VI trouxe à bordo a máxima "os
incomodados que se mudem", a opção de viver no Paraguai
(opção de um conhecido que está muito bem lá) torna-se cada
vez mais interessante.
Em 2018? Pelo
desandar da carruagem (1.500, 1808...) vai dar... (preencha
você mesmo) na cabeça.
Desconsideração generalizada
Um grande e
secular amigo não está entendendo nada. Muito menos eu. No
auge da era da tecnologia da informação e seus tentáculos
que permitem a comunicação instantânea entre pessoas, poucas
vezes vi tanta falta de consideração cacarejando por aí.
Esse meu grande
amigo estava fazendo as coisas dele e alguém ligou de uma
empresa. Uma proposta de trabalho, a princípio bem legal
para ambos. O cara que ligou pediu urgência, muita urgência,
para que meu amigo fosse a uma reunião discutir o projeto,
datas, grana e tudo mais. E assim foi. Digo, e assim não
foi. Meu amigo tentou falar com ele umas três vezes para
marcar a reunião que o outro pediu, mas o sujeito sumiu.
Ele, sua urgência e a sua consideração.
Comigo coisas
parecidas vem acontecendo há tempos. Por e-mail me
encomendam trabalhos e depois...somem. Como se vivêssemos no
tempo do rádio galena, sinal de fumaça ou coisa parecida.
Também no terreno pessoal, eventualmente acontecem coisas
bizarras e semelhantes. É o caso do lastimável,
insuportável, chato pra cacete, inconveniente e boçal
whatsapp, mas ruim com ele, pior sem ele. De vez em quando
alguém bota lá "você sumiu!". Pergunto a mim mesmo: eu sumi?
Que nada. É caô.
Meses atrás e
estava de carro no bairro de São Francisco, em Niterói, à
noite. Não gosto de conectar o celular ao 3G porque, além de
ser uma bosta tenho o direito a ficar quieto de vez em
quando, ouvindo minhas músicas. Horas depois, quando cheguei
em casa (onde o wifi vive ligado) o whatsapp apitou. Um cara
me dizia "não sei onde você está agora, mas não passe de
jeito nenhum por São Francisco porque está havendo um
tiroteio em Charitas e até já tacaram fogo em ônibus".
Caramba, eu estava lá, só que do outro lado do bairro. Por
que o cara não pegou o telefone me ligou e alertou? Porque
na cabeça dele, meteu no tal do whatsapp é missão cumprida e
o resto que se explôda (sei que não tem circunflexo no O).
Nem imaginou que o meu whatsapp estava desligado.
A falta de
consideração é hoje um elemento imperativo e generalizado.
Sub-produto do egoismo atroz, da egolatria patológica, faz
de muitas pessoas ilhas, cercadas de tecnologia de
comunicação por todos os lados, mas afogada em apatia
egocentrada. Se você não toma a iniciativa tudo some e tudo
bem. Tudo bem? Tudo bem é o cacete! Aí você nota que ninguém
comenta nada em lugar nenhum: site, bog, rádios on line.
Estão conectados? Estão. Não comentam por que? Não sei.
Uso uma
plataforma de e-mails para informar sobre atualizações de
minhas colunas, programa de rádio, etc. A plataforma vai
informando quantos por cento abriram o e-mail, quem abriu,
quando abriu, os que recusaram para você se aprimorar. Em
média, sabe quantos abrem? 12%. Só isso. Ponho lá a mensagem
"caso não queira mais receber essa mensagem me avise que
tirou seu e-mail da lista", mas nem isso fazem. Um colega
que enviava 3 mil e- mails a cada 15 dias comunicando sua
ações tinha o índice de 14% de mensagens abertas. E também
no caso dele, ninguém respondeu que queria o nome fora. Ele
decidiu não mandar mais nada.
A boa notícia é
que estou atento a desconsideração dos tempos modernos. A má
notícia é que não vou desistir.