Toda declaração é
um ato político. A revista “Veja”, outrora um dos mais
respeitados veículos do jornalismo impresso, hoje não passa
de uma “Caras”. Nada contra a “Caras”, mas cabe à “Veja”,
agora, assumir o seu papel de instrumento de lavagem
cerebral da sociedade brasileira. Escancaradamente
pró-impeachment, a editoria da revista agora quer “fazer a
cabeça” da família com a volta de um machismo deliberado e
completamente insano. Ou seja, a direita continua
diretamente ligada à tradição, família e propriedade – TFP.
Respeito o estilo
de vida de Marcela Temer. Se ela o escolheu assim, que seja
feliz. Mas incentivar homens e mulheres a perseguirem este
modelo, afirmando que o (até agora) vice-presidente e sua
esposa formam um “casal de sorte” é, no mínimo, um
desrespeito a tudo o que a mulher conquistou, após dois
séculos de lutas incessantes e sacrifícios os mais
extenuantes, inclusive a própria vida.
Sou a favor do
impeachment. Quero o PT fora do poder. O PT, em minha
opinião, já deu. Mas não sou “coxinha”. Sempre fui de
esquerda. Outro dia minha filha mais nova, que votará pela
primeira vez neste ano, me perguntou como a gente deve
votar. Eu disse a ela que, antes de ver o candidato, temos
de ver o partido. Contei minha experiência de sair às ruas
de cara pintada exigindo a saída do Collor, da paixão pela
pátria, do sentimento de estar contribuindo para um país
melhor, e do que o Lula fez com os nossos sonhos. Quando
votamos nele em 2002, e o vimos subir a rampa em 2003 com
aquele intragável bordão “a esperança venceu o medo”,
estávamos exultantes. O coração batia a mil. Nossos olhos
faiscavam e os sorrisos espalhavam um brilho estelar pelo
entorno do Planalto. E o que o Lula e seu PT fizeram com
nossos sonhos? Amassaram-nos, e nem ao menos os jogaram no
lixo, deixaram-nos ao relento com um país totalmente
quebrado, falido, envergonhado diante do mundo.
Mas isso não quer
dizer que sou de direita, não sei se dá pra entender, mas é
este o grito da maior parte da população. Queremos a saída
do PT, e a prisão do Lula, sim, mas não confiamos em Temer,
queremos também a saída e a prisão de Cunha, Renan, Aécio.
Queremos uma limpa no Executivo e no Legislativo. Bolsonaro
é um nazista abominável! O discurso dele no dia da votação
pela instalação do processo de impeachment da presidente
Dilma, fazendo apologia ao torturador Trusta é, no mínimo,
um crime de lesa pátria. A mulher Dilma Rousseff não merece
isso. A guerra é suja demais!
Eu sei que é
dificílima a situação de nosso país.
Trata-se de um
processo longo de assepsia da corrupção a que os poderes
estão acostumados há décadas, quiçá séculos. A mídia pode
ser também um agente de tortura. O que estão fazendo com
Dilma, escrachando sua pessoa, e não somente seus inúmeros
atos falhos, é de uma maldade sórdida. Ela é a feia, a
gorda, a lésbica, a machona. Isso não tem nada a ver com a
presidente!
Marcela Temer não
pode ser apontada como um ícone de mulher. Não há mais lugar
para Gracie Kelly no mundo. Até a princesa Kate Middlelton
faz algum trabalho social. E isso aqui não é uma monarquia.
A “sorte” de
Marcela, na verdade, é ter dinheiro sobrando para ser “bela,
recatada e do lar”. A maioria das mulheres de hoje não tem
essa felicidade. A renda familiar não comporta mais apenas o
trabalho do homem. Todas nós temos que ir para a rua ganhar
dinheiro, e ainda temos de cuidar da casa e dos filhos. A
nossa luta é para que os homens entendam porque são chamados
também ao trabalho doméstico. E a revista “Veja” vem
achincalhar as mulheres e a família moderna com essa
referência a uma dona de casa milionária, que não precisa
mexer um dedo para que uma legião de empregados venha lhe
atender: fala sério, olhem a responsabilidade de uma matéria
como esta!
A guerra política
é imunda, execrável, intolerável. Dá vontade até de jogar a
toalha e não defender mais ninguém. Só peço a Deus que faça
a justiça dEle no Brasil. E que levante novas lideranças,
idôneas, para comandar o país com zelo e honestidade.
Provavelmente a minha geração não verá isto. Mas quem sabe o
meu neto, recém-nascido, conseguirá? Esta é a minha oração.
E que as jovens de hoje sejam sempre belas, mas nada
recatadas, nem muito menos “do lar”. Em frente,
mulherada!!!!