Todas as pessoas, que trabalham e vivem em prol de uma
melhor sociedade, devem estar em destaque. Emir Larangeira,
coronel reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro,
ex-deputado estadual e escritor, é uma dessas pessoas.
Comparado ao humanista Thomas Morus, intitulado escritor e
polêmico, Emir nos concedeu uma entrevista, para falar um
pouco sobre Segurança Pública.
Na sua dupla condição de escritor com nove livros publicados
e de oficial da Polícia Militar, qual é a sua avaliação da
Segurança Pública em Niterói nos dias atuais?
- A resposta a esta indagação, na condição, de escritor, me
obriga a me reportar aos tempos da Ágora de Péricles. A
Ágora era uma praça onde o povo se reunia para discutir com
seus governantes os problemas da comunidade, sem
intermediários. Tal reflexão me leva à desastrada fusão do
Rio de Janeiro com a Guanabara (1975), e ao impressionante
esvaziamento de nossa capital. A fusão afastou ainda mais o
povo do governante e também deslocou o interesse dos
governantes para a nova capital, relegando Niterói a um
plano secundário.
Qual a principal consequência da fusão na Segurança Pública
de Niterói?
- Basta sublinhar o aumento populacional e a proliferação
das favelas. O tráfico de drogas tomou de assalto todas as
comunidades carentes, com danosas influências também no
asfalto. Por conta da fusão, a Segurança Pública de Niterói
capitaliza uma espantosa perda dos meios materiais e humanos
na Segurança Pública.
O que o cidadão niteroiense deveria fazer para reverter este
cenário? Como acabar com os tiroteios que assustam toda a
cidade?
- Infelizmente, o povo brasileiro é muito conformado. Vive
de ideologias e ignora a realidade. Esta tendência de
abraçar o ideal e ignorar o real, afeta também o
niteroiense. Um dos exemplos mais sugestivos é quando a
população vai às ruas de bandeira e camisetas brancas, para
reclamar da violência pedindo paz. Pedindo paz a quem?
Existe uma disputa violenta entre bandidos pelos pontos de
venda de drogas. O tráfico é um dos mais promissores
negócios do mundo. Os bandidos, por sua vez, não se
incomodam com a repressão policial. Ela é desproporcional ao
poderio deles. São milhares de traficantes armados com fuzis
de última geração, trocando tiros entre eles e enfrentando
um aparato policial em desvantagem numérica e tecnológica.
O que a sociedade poderia fazer?
Ora, a população se acostumou a criticar a polícia. O
cidadão prefere ficar entre os que estão na moda do “ideal”,
dos Direitos Humanos etc. Só muda seu pensamento quando ele
próprio é afetado pela violência. Mas aí reclama da polícia
e se satisfaz apenas com a reclamação. Não participa. Só
pede paz enquanto os bandidos riem de todos. Enquanto a
sociedade reagir assim a tendência é tudo piorar.
Não há certo exagero no seu posicionamento?
Obrigado pela indagação. Ela reforça a minha tese de que
este é o caminho mais fácil para se desviar da realidade. É
seguro andar em Niterói?
Não é seguro andar em Niterói. É tiroteio em todos os
lugares, notícias de assalto com morte. Mas isto não é
problema do Estado? Afinal, o cidadão paga altos impostos.
- Tem razão, mas o cidadão não quer saber se há investimento
suficiente na Segurança Pública. Mas insisto na indagação:
quando foi que a sociedade Niteroiense se reuniu para
reclamar desse esvaziamento desde a fusão? Respondo meu
caro: nunca!
Realmente a situação é grave, e o povo niteroiense precisa
conhecer esta realidade. Será que a instalação de Unidades
de Polícia Pacificadora (UPPs), em Niterói resolveria o
problema?
- Ora, UPPs são um belo exemplo de falso ideal, se
apresentando como realidade ao povo ingênuo. As UPPs
representam o inverso do ideal. Ideal seria que houvesse
máxima frequência do policiamento em toda a cidade. Curioso
é que o povo aplaude as UPPs sem se dar conta de que há mil
favelas só no Rio de Janeiro, e somente 40 delas contam com
UPPs. Esse efetivo concentrado ocasiona às ruas vazias e o
crime no asfalto tende a aumentar, além de não controlar o
tráfico, fazendo o efetivo sofrer ataques de surpresa e
aumentar, impressionantemente, o número de PMs mortos.
Enfim, a UPP como ideal é linda! Como situação real é
fracasso! As UPPs não resolverão nada em Niterói.
Agradeço a entrevista e deixo o convite para falarmos sobre
literatura em outra oportunidade. Sei que o senhor cuida de
informar sobre a grave questão da criminalidade em formato
de ficção.
- Sim, embora os leitores prefiram lidar com situações
distantes da realidade. Isto é ruim, pois a fuga dos
problemas reais leva as pessoas um estado de infelicidade.
Quando a realidade é conhecida, fica mais fácil lidar com
ela. É o que penso.