Em 10 de
janeiro de 2014
Por Rogério Medeiros Garcia de Lima, desembargador (Belo
Horizonte, MG)
A Folha de SP,
hoje, publica carta minha, onde ironizo os “baluartes” dos
direitos humanos. Agora, com o morticínio de presos no
Maranhão, jornalistas e intelectuais “engajados” escrevem e
opinam copiosamente sobre a questão carcerária e os direitos
fundamentais. São como urubus, não podem ver uma carniça.
Quando eu era
juiz da infância e juventude em Montes Claros, norte de
Minas Gerais, em 1993, não existia instituição adequada para
acolher menores infratores.
Havia uma
quadrilha de três adolescentes praticando reiterados
assaltos. A polícia prendia, eu tinha de soltá-los. Depois
da enésima reincidência, valendo-me de um precedente do
Superior Tribunal de Justiça, determinei o recolhimento dos
“pequenos” assaltantes à cadeia pública, em cela separada
dos presos maiores.
Recebi a visita
de uma comitiva de defensores dos direitos humanos (por
coincidência, três militantes). Exigiam que eu liberasse os
menores. Neguei. Ameaçaram denunciar-me à imprensa nacional,
à corregedoria de justiça e até à ONU.
Eu retruquei para
não irem tão longe, tinha solução.
Chamei o escrivão
e ordenei a lavratura de três termos de guarda: cada qual
levaria um dos menores preso para casa, com toda a
responsabilidade delegada pelo juiz.
Pernas para que
te quero! Mal se despediram e saíram correndo do fórum. Não
me denunciaram a entidade alguma, não ficaram com os
menores, não me “honraram” mais com suas visitas e … os
menores ficaram presos.
É assim que
funciona a “esquerda caviar”.
Folha de
São Paulo
Painel do Leitor -10/01/14
Segunda carta
Tenho uma
sugestão ao professor Paulo Sérgio Pinheiro, ao jornalista
Jânio de Freitas, à Ministra Maria do Rosário e a outros
tantos admiráveis defensores dos direitos humanos no Brasil.
Criemos o programa social “Adote um Preso”.
Cada cidadão
aderente levaria para casa um preso carente de direitos
humanos. Os benfeitores ficariam de bem com suas
consciências e ajudariam, filantropicamente, a solucionar o
problema carcerário do país. Sem desconto no Imposto de
Renda”.
A constituição
endereça garantia a todos,inclusive o direito a livre
manifestação do pensamento.
Minha experiência
como juiz em Minas Gerais foi de total desamparo na
resolução de problemas relativos a presos e menores
infratores.
Tinha de me virar
sozinho e pedir apoio inusitados a religiosos e a outros
poucos abnegados.Por isso sou cético sobre discursos de
defensores do “direitos humanos só para criminosos”.
Não concordo com
todas as posições de Janio Freitas, Marina,Eduardo etc.,
“Poder, 14/01, embora o respeite por sua coragem e
integridade. Sobre esse assunto discordaremos sempre.
Rogério
Medeiros Garcia de Lima, desembargador (Belo Horizonte, MG)
Amor
“O medo de amar é
o medo de ser livre”. Gravada em 1978, a canção de Beto
Guedes com letra de Fernando Brant reflete a mais pura e,
para alguns, brutal realidade. Só resta saber se esse amor
que a bela música descreve, o que dá medo, é consciente ou
inconsciente. Em outras palavras, será que existe alguém que
teme o amor, sabe disso e nada faz?
Certa vez
disseram que “o amor é brega”. Claro que é, mas e daí? Como
será viver sem amor, atravessar o deserto existencial sem um
copo d´água, uma brisa? Como seria viver sem jamais ter
sentido o amor? Estou me referindo ao amor afeto e não o
universal ou o fraternal. Falo do amor consequência da
paixão entre duas (ou mais) pessoas.
Por isso gostei
tanto do filme “On The Road”, que Walter Salles dirigiu mas
cometeu o desatino de batizar de “Na Estrada”, em vez de
usar o nome do livro que, com sabedoria, transportou para o
Cinema.
É um ácido filme
de amor sim, por que não? Desde que li “On The Road” de Jack
Kerouac (clássico do movimento beat lançado em 1951) em três
momentos especiais de minha vida senti a presença do amor da
primeira a última página. Que tipo de amor? O amor caos, o
amor clamado, implorado, quase ausente. Amor desespero, amor
sublime, amor angústia, amor proibido, amor anfetamina, amor
álcool, amor, amor, amor. Nem sei se Kerouac soube que
escreveu tão bem sobre o amor que Walter Salles filmou.
O amor é um
sentimento absolutamente necessário para todos os seres e
mora aí meu grande questionamento em relação a igreja
católica. Estudei em colégio católico de 11 a 17 anos.
Homens de batida amargos, complexados, rancorosos, acabavam
descarregando nos alunos todas as suas frustrações, o seu
não viver, quase inexistência social.
Daqueles
religiosos, todos abandonaram a batina e passaram a amar,
casar, ter filhos. Encontrei vários ao longo dos anos e no
lugar da truculência seca da desidratação afetiva, vi homens
mais tolerantes, generosos, bem humorados.
Concordo com
Caetano quando, na magistral “Paula e Bebeto” que ele
compôs, Milton Nascimento canta “qualquer maneira de amor
vale à pena”. No início dos anos 70, auge da adolescência,
uma namorada minha me disse algo parecido quando nos
beijávamos e sussurrávamos segredos no alto de uma pedra na
praça Ginda Bloch, em Teresópolis, ouvindo sem parar “That´s
Way”, do Led Zeppelin. Que som. A letra não trata de amor
especificamente, mas a música é amor em estado líquido. Como
é o caso da fabulosa e acrilírica “Love Reign O´er Me”, The
Who. Amor em letra e música. Tema infinito enquanto dura, o
amor voltará a essa página.