De grão em grão
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Publicado
em 28/01/2017 |
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Lembrei-me da frase “de grão em grão a galinha enche o papo"
quando olhava para um grupo de jovens, que aparentavam ter
entre 18 e 22 anos de idade, e conversavam sobre a situação
política e financeira do país. Logo explicarei o porquê de
me recordar daquele ditado popular. Os aludidos jovens se
manifestavam em sua conversa com posições um tanto
extremistas, radicais e perigosas para a sociedade. Ouvi
frases como “Tem que aniquilar todo mundo e começar de
novo!”, “Poderia cair um míssil no Congresso!”, “Deveriam
torturar até a morte!”. Fique um tanto estupefato, mas vamos
por partes para compreender a desnecessária fúria interior.
Aniquilar todos e começar de novo não adiantará, porque se a
conotação da frase foi em relação a todos, literalmente,
eles também seriam aniquilados. Neste contexto, não haveria
como começar tudo de novo porque não haveria ninguém para
começar. Por outro lado, se a menção era à classe política,
há um equívoco na origem daquela ira, afinal, somos aqueles
que elegem os que irão nos representar e governar. Se há uma
mácula em alguém no exercício da função eletiva na política,
os que votam são responsáveis por isso. Quando você elege
uma pessoa para realizar algo, seja no setor público ou
privado, você acredita que ela fará da melhor forma
possível. Entretanto, se ela falhar, você que a escolheu
também terá relevante parcela naquele erro. Chama-se, no
mundo jurídico, de culpa in eligendo (culpa por ter
escolhido). Portanto, aqueles jovens, que já aparentavam ter
idade para serem eleitores, possuem parcela de culpa em
relação ao rumo político que o país tomou.
Cair um míssil no Congresso, na ideia exposta por um deles,
seria uma forma de eliminar os políticos que lá exercem a
função de legisladores (Deputados Federais e Senadores).
Isso também não soluciona o problema, até porque também há
bons políticos no Congresso Nacional, que mereciam ser
apoiados para o combate aos que não nos servem de
representantes. Por outro lado, precisaríamos eleger
novamente todos os que ocupariam as cadeiras, e não haveria
garantia alguma de que a qualidade legislativa aumentaria.
Noutro giro, além de ser uma matança generalizada –
caracterizando um pensamento extremamente perigoso (de
resolver os problemas com a morte alheia) – demonstra a
falta de comprometimento do eleitor com a fiscalização dos
atos políticos que o representante, que ele escolheu, vem
praticando. Qual daqueles jovens acompanha diariamente os
atos praticados pelos políticos que elegeu? Qual deles se
lembrará em quem votou para ocupar os cargos políticos nas
duas últimas eleições? Por isso, a violência e a morte não
ajudam a resolver o problema já que ele é cultural. É
preciso mudar a cultura do povo e conscientizar o eleitor.
Por fim, talvez o mais aterrorizador comentário, seja o que
se refere à prática da tortura. “Deveriam torturar até a
morte”. Em nosso país, gerações anteriores lutaram
bravamente contra uma das práticas mais nefastas realizadas
pelo ser humano: a tortura. Um pensamento daqueles, vindo de
um jovem que não vivenciou aquela época de barbárie iniciada
em 1964 em nosso país, retrata um resquício de ditadura
sobre uma mente que desconhece o significado daquela forma
de governar. A nossa Constituição da República vigente (de
1988) não permite a prática da tortura, exatamente por
preconizar os pilares da democracia para exigir o bom
andamento das condutas em nossa sociedade e o respeito à
vida e à integridade física alheia. Muitos morreram e foram
torturados sofrendo em demasia em nosso país. O jovem se
manifestou de maneira inadequada por desconhecer a tortura,
pois, caso já tivesse sido torturado, jamais iria se expor
daquela forma.
Não é pela violência, pela morte ou por atos de barbaridade
que iremos resolver os problemas de um povo. É pela educação
adequada e eficiente, que permita aos cidadãos, de grão em
grão, encherem o seu papo de conhecimento, informação
verídica, sabedoria e consciência para a tomada de decisões,
tanto políticas (na qualidade de eleitores ou de políticos
eleitos) quanto pessoais, que começaremos a solucionar o
nosso problema. Por isso, não canso de ressaltar que somos
um país pobre porque não investimos em educação, e, em razão
disso, por vezes erramos na escolha de nossos governantes e
representantes.
Precisamos de educação e não de violência! E viva a
cidadania!
* Professor Barragan é Advogado, Contador, Professor de
Direito Tributário e Financeiro, Mestre em Direito Econômico
e Desenvolvimento e Coordenador de Projetos Sociais •
Facebook: Professor Barragan • Twitter: @profbarragan •
Instagram e Periscope: @professorbarragan • Site:
www.portaldoprofessorbarragan.com.br
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