Nossos chatos de cada dia
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Publicado
em 28/01/2017 |
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A voz das ruas sussurra que 90% dos chatos não sabem que são
chatos. Já os 10% tem certeza absoluta de que são pessoas
sensacionais, raras, indispensáveis e, claro, pouco
modestas.
Tempos atrás encontrei com um chato que não sabe que é chato
e conversei sobre um outro chato que se julga o belo, o
tesouro, o garanhão, mas que não passa de um larápio mal
sucedido (se fosse um bom larápio ninguém saberia), metido a
tradição, família e propriedade mas que pouca gente atura.
Já ouvi dizer que ele é uma espécie Amaury Junior dos
submergentes sociais. Não é raro vê-lo “chorando” em
ocasiões de seu interesse. Não é raro ouvirmos que ele é
usuário de “cristal japonês”, substância utlizada por atores
e que faz os olhos lacrimejarem abundantemente. É derivado
do mentol e no Google há boas definições para o produto.
O chato que não sabe que é chato que encontrei é uma pessoa
extremamente bem intencionada. Só que quando chega perto,
sempre falando muito e alto, eu rosno, xingo em pensamento,
mas, sinceramente, me sinto contra a parede. Por que? O cara
é gente boa, se dedica as pessoas, torce por um mundo
melhor, mas, coitado, é chato pra cacete.
Ao contrário do molambão do Amaury Junior paraguaio (também
conhecido como G.B.O. – Grande, Bobo e Otário), o chato do
bem não tira onda, não se acha, nem se coloca acima do bem e
do mal. Já me disseram que ele divide tudo o que tem com
todo mundo, não tolera a pobreza de espírito e nem a
material, é um democrata, mas, coitado, é chato pra caramba.
O que fazer? Afinal todos nós temos pelo menos um chato em
nosso pé. Quem teria a coragem de chegar para o sujeito,
pegar carinhosamente pelo braço, levar para um canto e, com
a voz baixa, dizer “desculpe a minha franqueza, meu caro.
Mas você está se excedendo... com o passar do tempo
tornou-se quase inconveniente, provavelmente um pouco
chato”.
Eu não tenho coragem. Para mim, deixem o chato chatear,
finjam que não ouviram e toquem a vida porque em algum
momento de sua existência ele saberá que é chato. Através de
terceiros ou, o que é raro, graças a um insight, um mergulho
interior, sonhos, sei lá.
Chato. Definição que nasceu (des) graças aquele primo do
piolho que habita os pelos pubianos de quem é fraco no
quesito higiene. O chato, inseto, é chato, porque coça,
coça, coça, coça e a aflição é tamanha que há relatos de
pessoas que chegaram a jogar álcool para arder bem. Por
isso, o chato é chato.
Matá-los é constrangedor já que a substância mais eficiente
é o Neocid em pó. Aquele que vem numa latinha que faz “plém,
plém, plém” quando o usuário aperta para o pó sair. Logo,
quando se houve “plém, plém plém” nas imediações de algum
banheiro o grito anônimo do tipo “eita, chatoooo!” é comum.
Mas e o chato humano? O que fazer? Não há Neocid em pó para
ele. Fugir, fingir que não viu, abrir o verbo? Pois é, está
aí uma questão que parece não ter solução.
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