Panorama • João Direnna
AGORA VAI
A
grande bomba da semana não vem da Coreia do Norte de Kim Jong-un.
Nem da Câmara Federal de Fufuca, muito menos do Palácio comandado
por Rodrigo Maia que ficou no lugar de Michel Temer que foi fazer
figuração na China. Também não é parte de nenhum episódio do Chaves
estrelado por eles. Vem da Bahia de Geddel Vieira Lima, homem forte
nos últimos governos e da aliança PT-PMDB, que a Polícia Federal
encontrou em um suposto bunker onde o ex-ministro, aliadíssimo e,
talvez, sócio do presidente, armazenaria recursos ilícitos para
serem distribuídos, certamente, para altos comissionados
governamentais. A contagem final somou espantosos R$ 51.030.866,40,
segundo o balanço definitivo da PF, que precisou de sete máquinas
para contar os milhares de notas. Além de reais, nessa quantidade
também se contabilizaram dólares, US$ 2,688 milhões (R$ 8,387
milhões). A montanha de dinheiro encheu ao menos dois porta-malas de
camionetes usadas no cumprimento do mandado judicial e tem sido
apontada como uma das maiores apreensões do tipo em todo mundo e em
todos os tempos. Resta saber se o excelente trabalho realizado pela
Justiça vai resultar em desmanche de novas quadrilhas e prisões de
personagens que todos sabemos estar por trás da corrupção e da
máquina carcomida chamada Brasil.
INDEPENDÊNCIA
Quinta -feira, comemorou-se mais um ano de independência pois, no
dia 7 de Setembro de 1822, o Brasil assegurou a emancipação da
ex-colônia portuguesa. Foram várias as causas, uma vez que no início
do século XIX a situação do Brasil, do ponto de vista político,
continuava a mesma do século anterior. Entre as mais importantes
estão a vontade de grande parte da elite política brasileira em
conquistar sua autonomia e o desgaste do sistema de controle
econômico, com restrições e altos impostos, exercido pela Coroa
Portuguesa. Passado tanto tempo, várias foram as conquistas no campo
econômico e o Brasil, definitivamente, alcançou reconhecimento
mundial neste setor. Mas e a autonomia política tanto almejada? Será
que tem contribuído para a verdadeira independência de seu povo? Ou
será que, hoje, o Brasil 'independente' se deixou levar pela mais
perigosa forma de colonizá-lo e escravizá-lo que é a corrupção?
RUMO A 2018
E
enquanto a bola não rola rumo à Copa da Rússia e, muito mais
importante, àquela que vai definir nossos destinos para os próximos
quatro anos, qual seja, a eleição para presidente em outubro de 2018
(atenção Justiça Eleitoral, Caravanas caracterizam extemporaneidade,
hein), começam a ganhar corpo e alma algumas tentativas de se lançar
nomes para a disputa que inicia daqui a nove meses. Em campo, elle,
sempre elle, Lulla da Silva, Bolsonaro, alguém do PSDB (não se sabe
ainda se Alckimin ou Dória), Ciro, Marina e outros que optaram por
ficar no banco aguardando instruções e acontecimentos que podem
incluir até cassações de registros. É aguardar pra ver se surge
coisa melhor!
BARBÁRIE
Sem
ser puritano, tampouco defensor de radicalismos nos moldes
bolsomíticos, está cada vez mais difícil assistir TV com a família
sem se envergonhar (se bem que às vezes dá vergonha de ser
brasileiro). Já não bastam algumas novelas, filmes, programas
jornalísticos e de variedades com conteúdo selvagem, cruel, desumano
e grosseiro - sem falar nos temas de sexualidade simplesmente
jogados no ar - e agora deram para infestá-la com gravações feitas
por criminosos cujo conteúdo é de retirar qualquer um da sala. Os
áudios de Michel Temer, Lula, Dilma, Aécio Neves, Romero Jucá, Renan
Calheiros, só para citar alguns dos mais altos figurões da
república, definitivamente, deram vez aos pornográficos de Joesley "Safadão"
Batista que, além de assassinar o idioma, usam de extrema violência,
agressividade, ironia e até de canas de sexo explícito ao se referir
aos poderes constituídos de uma republiqueta.
UMA LUZ
NO FIM
Para não dizer que não se faz nada que preste no Brasil,
notadamente, pelos poderes da república de bananas - para não
chamá-la de republiqueta a toda hora -, a presidente do STF,
ministra Cármen Lúcia, dia desses, determinou que todos os tribunais
publicassem dados sobre estrutura e remuneração de seus magistrados,
enviando cópias das folhas de pagamento para controle orçamentário e
financeiro mostrando, assim, transparência aos cidadãos e órgãos
competentes. Isto aconteceu porque parte da população vem se
manifestando, através das redes sociais e das ruas e após ter
conhecimento (santa inocência?) dos salários mensais de 84
magistrados do Mato Grosso do Sul que recebiam (em) até R$ 95 mil
mensais, ultrapassando o teto constitucional de R$ 33.700 (risos,
não me contive). Outra boa coisa, que veio no bojo da solicitação da
ministra, foi conhecer o resultado da pesquisa do CNJ que apontou
para outras safadezas, digo, mordomias do poder judiciário: R$ 84,8
bilhões ou R$ 47,7 mil pagos a cada magistrado por mês. De qualquer
maneira, uma boa atitude de V. Exa., que esperamos traga mais
moralização e economia para os cofres públicos que poderia, assim,
parar de esbanjar o dinheiro da saúde, da educação, dos transportes,
da segurança, do INSS, enfim, do povo que não aguenta mais tanto
desperdício e roubalheira.
LOCUPLETAÇÃO
Com a onda de corrupção que tomou conta do País, tema frequente de
todos os noticiários, principalmente, em tempos de operações como a
Lava Jato, muito tem se falado sobre sua origem, sobre o toma lá dá
cá enraizado na cultura do brasileiro cada vez mais acostumado com a
prática de levar vantagem, seja ao tentar impedir uma simples
infração de trânsito (a famosa cervejinha pro guarda) ou uma multa
do fiscal daquela prefeiturazinha do interior, seja tentando liberar
produtos, geralmente, ilegais em portos ou aeroportos ou até em
tempos de campanha eleitoral, quando grandes empresas fazem grandes
negócios por "amor à causa, ideologia e mesmo patriotismo" pois não
é raro tal alegação de empresários ao serem presos. Alguns
historiadores afirmam ter chegado no dia em que Dom João desembarcou
no Rio de Janeiro, em 1808, e recebeu 'de presente', de um
traficante de escravos, a melhor casa da cidade, a Quinta da Boa
Vista e depois, como recompensa, passou a gozar dos privilégios da
Corte por ser 'amigo do rei'. Dois séculos se passaram e as bacanais
de hoje se sofisticaram e são muito, muito maiores dentro e fora do
governo. Basta ver o que acontece nos legislativos e executivos
(estes sem exceção) e no Judiciário (com algumas) onde fica
comprovada a orgia com o dinheiro público, resultando na crise de
todos os setores e na máxima que os generaliza como farinha do mesmo
saco.
Frase da
semana: O filme da Lava Jato prende o espectador até o fim, mas
Gilmar Mendes solta.
* João Direnna é jornalista e psicólogo e responsável pelo
blog do direnna. www.dirennajornalista.blogspot.com